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terça-feira, 17 de junho de 2025

Guiné 61/74 - P26928: A Bissau do Meu Tempo (Virgílio Teixeira, ex-alf mil SAM, CCS/BCAÇ 1933, Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte IIIb: A piscina do "Clube de Oficiais" do QG/CTIG, em Santa Luzia (Fotos de 11 a 17)


F11 – Na barra de elevações com a Suzi, filha do Coronel "Lavrador", chefe daquilo tudo. Abril68.   [ Seria coronel de intfantaria Saraiva, diretor do Clube Militar de Oficiais em 1 de julho de 1972 ? Vd.  comentário abaixo do editor LG]



F12 – Apanhar sol na relva da piscina, ao lado da minha amiga Suzy. Abril/68



F13 – Refrescando-me na piscina, que como se vê com pouca gente. Abril68




F14 – Deitado na prancha da piscina, com algumas pessoas. Abril68.



F15 - Preparando-me para um mergulho. Abr68.


F16 – Tomando um duche na piscina, e pelo aparato deve ser o bar de piscina, sem certezas,



F17 – A descançar na piscina fumando um cigarro. 02Abril/68


Guiné > Bissau > Santa Luzia > QG/CTIG > 1968 >  A piscina  do "Clube Militar 
de Oficiais"  

Fotos (e legendas): © Virgílio Teixeira (2025). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1.  Continuação da publicação de uma seleção de fotos do álbum do Virgílio Teixeira (ex-alf mil SAM, CCS/BCAÇ 1933, Nova Lamego e São Domingos, 1967/69).


1.1. Comentário do autor (enviado por email, 
17 jun 2025, 12:25) ao poste P26922 de 15junho2025 > O Biafra » O Clube de Oficiais de Santa Luzia (*)

(...) Entenda-se que não estamos a fazer uma tese de doutoramento, nem uma pesquisa para a História de Portugal. São noções que ainda vamos tendo do que se passou em 67 a 69, já passaram 58 anos, a memória já é curta e confusa. Depois existem comentários e outras descrições em diversas fontes, aqui eu falo do periodo de 21set67 a 04agosto69. Acredito que com o andar dos anos, muita coisa fosse melhorada ou até piorando, mas não é da minha lavra.

Como já disse o "Biafra"  era o então barracão de madeira e teto de chapas de zinco, onde eram colocados oficiais inferiores, que andavam de passagem. O nome de "Biafra" advém portanto das péssimas condições de alojamento, mas era um local de passagem, ninguém vivia lá em permanência, até porque passavam por lá não só os chamados "periquitos", como também a malta da pesada já com uma grande tarimba, e pirados da cabeça, ou apanhados pelo clima.

O nome advém, julgo eu, porque nesse ano de 1967, já se notavam movimentações de aviões e material para a guerra do Biafra, na Nigéria, essa sim sem nenhumas condições. A associação é fácil de compreender.

O então novo empreendimento situado ao cimo da estrada de Santa Luzia, com Porta de Armas, chamado por vários nomes: Clube de Santa Luzia, Clube de Oficiais do QG, Messe do QG, ou até Piscina do QG, era tudo do mesmo. Aqui já eram instalações de certo luxo relativo, não tem nada a ver com a guerra do Biafra.

A caserna dormitório, onde se alojavam, passe o termo, os oficiais milicianos de aviário, era então o chamado pejorativamente o "Biafra"

Não me consta a existência dessa praxe de atirarem com lapas para cima da chapa, simulando um ataque dos turras!

Se existia o termo de "Biafra" da Base Aérea eu desconheço, e ainda lá fui uma única vez, enquanto esperava transporte para Nova Lamego.

Esta é a minha versão do excelente Clube de Oficiais de Santa Luzia, com a sua piscina, messe, esplanadas, bares, salas de jogos e muito mais.

O local icónico que não dá para esquecer, pois aqui, ao invés do Café Bento (ou 5ª Rep), não se discutia a guerra, era coisa que passava ao lado. Sei que depois, anos depois já não era local seguro.

 "Biafra" de Sargentos e Biafra de Praças???

Francamente não tenho a mínima noção da sua existência, pois mal se viam sargentos neste espaço, e Praças muito menos. Será que ocupavam as instalações do Quartel do 600 que fazia a segurança do QG? Ficava por trás do Clube.

Conforme já li entretanto nos comentários, constato que na realidade nunca vi um "Biafra" para Sargentos e muito menos para Praças.

Isto leva-me a pensar melhor como se ia para lá parar.

Eu, pessoalmente, vinha a Bissau em serviço, com Guia de Marcha e apresentação no QG. Logo tinha estadia no Clube de Oficiais, cama, mesa e roupa lavada. Mas quando passei lá por duas vezes, a caminho de férias na metrópole, e depois no regresso, era tudo por minha conta, inclusive a estadia e alimentação.

É aí que recorro à estadia no "Grande Hotel", e comidas e bebidas nos vários pontos, nomeadamente, o "Solar dos 10".

Fala-se muito no "Pelicano", mas já vi as fotos e não me lembro de existir no meu tempo.

O pessoal, sargentos e praças, que estariam em serviço em Bissau, tinham as instalações dos Adidos, em Brá, e como já foi dito, eram muito más, faz-me lembrar o levantamento de rancho quando fiz um Oficial de Dia.

Os quartos eram abafados e quentes, verdadeiros viveiros de baratas, que me alteraram o sistema nervoso, e foi uma das causas que me levou ao internamento na Psiquiatria do HM 241, entre outros problemas, nomeadamente de colocação após ter terminado a minha função no CA do BCAÇ 1933. (...)

(Seleção, reedição e numeração das fotos, revisão / fixação de texto: LG)


1.2. Comentário do editor LG:

A propósito do coronel "Lavrador", pai da Susy das fotos 11 e 12, cito aquu um excerto do depoimento do Coronel Engº de Transmissões Jorge Golias, publicado em 
Memórias do Agrupamento de Transmissões e Histórias de Guerra na Guiné – 1972/74


(..:) Cheguei ao aeroporto de Bissalanca no dia 1 de Julho de 1972 (...)

(...) O Agrupamento de Transmissões em Bissau era um aquartelamento confortável, com todas as suas instalações feitas de raiz, bem adaptadas à função e ao clima. Bem perto ficava o Grupo de Artilharia nº 7 (GA-7) e fazia-se a pé o percurso até ao Clube Militar de Oficiais (CMO) em Santa Luzia, mas sempre se utilizava o Jeep Willis para evitar a exposição ao sol do meio-dia. (...)

(...) Seguiu-se a apresentação e, logo nesse mesmo dia, a passagem do testemunho pelo Cap. Cordeiro, que eu ia render.(...)

(...) Foi este ambiente, inesperadamente agradável, que vim encontrar no dia 1 de Julho de 1972. Foram meus companheiros de voo o Capitão comando Carlos Matos Gomes e o Cap miliciano José Manuel Barroso, à data jornalista do Jornal “República”.Ao fim da tarde desse dia, e enquanto me refrescava na esplanada do Clube, chegou-me aos ouvidos o som de várias explosões que não percebi se tinham origem na cidade ou mais longe. (...)

A segunda emoção da minha chegada à Guiné acontece quando, já de noite e tomando um digestivo na mesma esplanada, assisto a uma debandada geral dos presentes, apenas porque umas gotas de água refrescantes começavam a cair. (...)

(...) À noite recolhi a casa do Cap Cordeiro (por alcunha o Verde) que eu ia render. Seria nesta casa que me instalaria, aguardando a chegada da família, que só viria a estar comigo seis meses, por questões de segurança. Esta casa ficava na Rua Gen. Arnaldo Schulz, o anterior governador, e onde era vizinho do Coronel Saraiva, um camarada de Infantaria que não tinha casa no Continente e que sempre tinha vivido no Ultramar até uma idade já avançada e com duas filhas adultas.

Era ele o Director do Clube Militar de Oficiais. Curiosamente viria ainda a cruzar-me com ele nos Açores onde, já na Reserva, viria a acabar o seu serviço militar, refugiando-se a seguir e, finalmente, não no Continente, mas na ilha de Santa Maria! 

E ao escrever estas linhas ao correr da pena, recordo-o com saudade pela companhia que me fez na Guiné e nos Açores e porque é dele a frase para mim mais marcante que ouvi na altura do PREC (processo revolucionário em curso) e que foi dita aos oficiais que comandava numa unidade da RMN: os senhores mantenham-se sempre unidos, nem que seja contra mim! (...)


(Seleção, revisão / fixação de texto, itálicos e negritos: LG)

domingo, 15 de junho de 2025

Guiné 61/74 - P26922: A Bissau do Meu Tempo (Virgílio Teixeira, ex-alf mil SAM, CCS/BCAÇ 1933, Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte IIIa: O "Biafra", "o barraco-dormitório dos oficiais milicianos de passagem", que fazia parte do "Clube de Oficiais" do QG/CTIG, em Santa Luzia (Fotos de 1 a 10)






Foto nº 6A e 6



Foto nº 1 e 1A


Foto nº 5


Foto nº 2


Foto nº 3


Foto nº 4


Foto nº 8


Foto nº 7


Foto nº  9


Foto nº 10


Guiné > Bissau > Santa Luzia > QG/CTIG > 1967 > "Biafra" e outras instalações do "Clube de Oficiais" (messe, piscina, esplanadas...) > 

Fotos (e legendas): © Virgílio Teixeira (2025). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Mensagem do Virgílio Teixeira, segunda, 9/06/2025, 23:44


Boa noite, Luis,

Antes de chegar o dia 10, o Dia de Portugal e dos antigos combatentes, estou a enviar aquele poste que foi o mais difícil e trabalhoso, dado o seu melindroso tema.

Ando há um mês com isto, e já iniciei o fim da estória em 1 de junho, agora já acho que é tempo de mais e quero trabalhar noutras coisas.

Espero que não vamos abrir aqui uma fenda, entre os privilegiados e os outros. Mas foi assim, e tudo o que está escrito, salvo erro de algumas datas ou omissão de outros comentários, fiz aquilo que sei, e para quem não teve esta oportunidade, fica aqui a saber como foi no meu tempo.

Atenção que eu não vivia lá, no "Biafra", só uma vez por mês no máximo, e aproveitava o que podia.

Penso que depois, nos anos seguintes e pelo que já vi por aí em novas fotos dos anos 70 e tal, de outros camaradas, as coisas mudaram muito para melhor, e abriram as portas à classe de sargentos, não havia justificação de ser um espaço elitista.

Os dormitórios não sei como se aguentavam, falo do "Biafra", como parte do "Clube de Oficiais"...


Abraço, Virgilio


2. A Bissau do Meu Tempo > "Biafra" (Fotos de 1 a 9)

Sabado, dia 01 Junho , 20h50


ARQUIVO SOBRE BISSAU > BIAFRA – CLUBE MILITAR DE OFICIAIS DO QG – PISCINAS – MESSE DE OFICIAIS


Nota de introdução:

O presente Poste sobre este tema pode ferir a suscetibilidade de alguns antigos combatentes, que não se reveem nestas fotos e descrição das mesmas.

É um tema que esteve sempre guardado, por respeito àqueles que não tiveram estas oportunidades, posso até dizer que pode ser um atentado a todos que tiveram uma guerra que não esta.
´
Uns excessivamente mais dura, mas há muitos que também tiveram melhor vida.



A minha Vida em Bissau:

O nome de "Biafra" foi das primeiras noções sobre a Guiné desde que aterrei em Bissau no dia 21 set 67 pelas 9h da manhã.

O "Biafra" era o nome dado ao barracão de madeira, com cobertura de zinco, onde pernoitavam naquele tempo os oficiais milicianos subalternos, alferes e tenentes.

Para os restantes oficiais existiam vivendas com quartos individuais de qualidade razoável.
A conotação vinha exatamente do apoio dado por Portugal à guerra do Biafra que se desenrolava na Nigéria (#), tal como depois a guerra do Catanga no Zaire (ex-Congo Belga).

Quando parei no Sal onde pernoitamos, encontravam-se dois aviões diferentes que logo soubemos que iam para o Biafra, nome que já conhecia antes, tal como o Catanga.

Este barracão era dotado de nada, apenas camas de ferro, colchão verde de espuma. E, para quem o conseguisse, podia ter uma rede mosquiteira, para nos salvar dos mosquitos   
indesejáveis. Beliches de dois andares, sem limpezas nenhumas. E, como já foi dito,  era um calor sofucante, que nem as portas abertas resolviam o ambiente brutal de cheiros.

Não era uma prisão porque não havia presos especificos e condenados, pois todos que tinham o azar de cair na Guiné,  já eram presos à nascença sem culpa formada, mas condenados a 2 anos de pena efetiva, não beneficiavam de pena suspensa, como a maioria dos fora-de-lei exceto aqueles que cairam no terreno, mortos ou feridos e evacuados.

Como comodidades havia um espaço de casas de banho, sem sanitas, à caçador, e julgo que 2 ou 3 chuveiros para o duche. Havia uns lavatórios, não havia sabão nem toalhas, nada.

Isto era o "Biafra" que conheci, e onde fui parar logo na primeira noite do dia 21set67.

Nos anos seguintes era a mesma coisa, com a agravante da degradação por ausência de obras.

Este barracão-dormitório, destinado àqueles que chegavam em rendição individual, ou que partiam e regressavam de férias à metrópole, ou regressados pós-consultas externas e
tratamentos no Hospital da Estrela, entre outras situações, eram por isso mal dotados em tudo.

Mas diga-se que na minha cabeça pairava outro cenário bem pior, por isso não fiquei com traumas, aceitei aquilo que tinha.

Este pessoal não ia para as instalações dos Adidos (o Depósito Geral de Adidos) em Brá,   
porque aí só ficavam as unidades completas, que chegavam ou partiam.

Era este o meu caso, que, embora não tivesse ido em rendição individual, parti antes do
embarque do Batalhão em avião militar C6, juntamente com o comandante, o oficial de 
operações, dois alferes milicianos de duas companhias operacionais e os dois respetivos sargentos do quadro.

Embora não venha a propósito do tema, quando lá voltei à Guiné em outubro de 1984, fui hospedar-me naquele empreendimento, que era o Hotel 24 de Setembro, com poucas modificações introduzidas. No local do barracão, o "Biafra",  foram construídas meia dúzia de pequenas vivendas iguais às que já existiam do tempo da tropa, para os oficiais superiores, mas tudo era muito pior do que antes.

Voltando e para falar do "Biafra", o barracão- dormitório, mal amanhado: fazia parte de um grande complexo, a que se dava o nome pomposo de "Clube de Oficiais" do QG – Quartel
General – ou de "Santa Luzia".

Faziam parte do Clube,  além do dormitório, um amplo espaço de ruas asfaltadas, com valas fundas para o escoamento de águas, jardins por todo o lado, bem tratados por pessoal profissional.

Completavam as instalações uma dúzia ou mais de pequenas vivendas individuais, para os oficiais superiores e famílias, muito bem tratadas e ajardinadas.

Além disso tinha então um amplo e grande espaço, a "Messe de Oficiais",  um edificio para as refeições, os bares, as salas de jogos e filmes, salas de conferências, tudo espaços de lazer
impecáveis, que toda a oficialada frequentava, servidos por pessoal civil, empregados locais, de luva branca, e outros mimos que, pela minha parte, não conhecia.

Cá fora um amplo espaço de  "Esplanadas e Bar", para as tardes quentes e as noites húmidas inundadas por carradas de mosquitos, que atormentavam o pessoal. 

A luz era fraca, e havia aquelas coisas que não me lembro do nome, que queimavam e faziam um fumo indesejável à mosquitada [o repelente antimosquito, o mais conhecido era o de marca "Lion Brand"].   

Muitos sofriam as agruras das picadelas, e os efeitos nas peles brancas. Por acaso, eu fui um sortudo, a minha pela escura era um tampão às picadelas, não me faziam nada de especial, embora as quantidades enormes chateavam pela sua presença.

Finalmente tinhamos a "Piscina privada do Clube", uma boa piscina diga-se em abono da verdade. Dotada de bar e instalações sanitárias completas.

À volta tudo ajardinado com relva sempre bem tratada, àrvores de frutas, sombras, alguns equipamentos de ginástica.

Tudo isto era o chamado complexo do Clube, que não era o "Biafra", este era apenas o barraco- dormitório dos oficiais milicianos de passagem.

Todo o complexo era gerido por um coronel de Administração Militar a quem davam o pomposo nome de "O Lavrador", por ele se dedicar muito a tudo que dizia respeito às plantas,
flores, relvas, árvores e frutas. Nunca falei com ele, apesar de o ver muitas vezes, era gordo e anafado.

Mas tinha,  a complementar tudo, a sua bela filha Suzy, uma rapariga nova que ornamentava as vistas da piscina, com quem tive uma relação próxima, sem nunca lhe ter tocado.

Poucas mais mulheres brancas se viam, mas algumas, poucas, eram as esposas de oficiais que ali viviam na sua comissão de serviço.

Vivia ali muita gente, ligados quer ao QG, às Companhias de Intervenção, alojadas no quartel, ali ao lado, a que se dava o nome de ‘O 600’, por ter sido construído por esta companhia ou batalhão.

O QG tinha todos os serviços, todas as REP , o Serviço de Justiça, a Chefia de Contabilidade, a Chefia da Intendência, a CHERET, com muita gente, empregados civis, muitos.

A entrada para o complexo, era feita pela estrada de Santa Luzia, que partia cá de baixo junto ao Pilão, e acabava na Porta de Armas. E para lá chegar havia uma viatura militar de hora a
hora, para baixo e para cima, para o transporte do pessoal apeado.

Eu pouco usufruí disso, pois em pouco tempo já tinha o meu próprio meio individual de 
transporte motorizado,  de duas rodas.

Além dos residentes habituais, eram enviados para lá os oficiais que tinham de ir a Bissau, e por Guia de Marcha iam lá parar. Depois da apresentação, acho que ficava lá o meu nome (bem como o dos outros) como comensal habitual, e eram mais as vezes que ficava fora do que lá dentro, por isso podia ser um bom filão de receitas colaterais.

Ali bem perto, a uns 100 metros tive a oportunidade de conhecer a primeira amiga cabo-verdiana, e ganhar uma relação de amizade, que acabou mal para ela, por razões de iintimidades com um militar do quadro.

Isto é aquilo que eu conheci, tal e qual com estes nomes, nos anos de 67, 68 e 69. É natural que muita coisa se tenha alterado, mas não no meu tempo. Isto era o que eu conhecia.

Foi o primeiro local que visitei quando cheguei, vindo diretamente do aeroporto , em jipe militar, e feita a minha apresentação às Autoridades Superiores do QG, onde cheguei, com a farda número um, incluindo o blusão, completamente encharcado dos cabelos aos pés.

Recebido num gabinete que mais parecia uma casa mortuária, era um congelador onde vivia aquela gente, e no pouco tempo que lá passei a tiritar de frio, ainda hoje me lembro como a
pior experiência climática da Guiné. Daí para diante comecei a ter problemas com os dentes, e nunca mais suportei em toda a minha vida, presente e futura, o chamado ar condicionado.

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Nota de VT/LG:

(#) A Guerra do Biafra (também conhecida como Guerra Civil da Nigéria, Guerra Civil Nigeriana, Guerra Nigéria-Biafra...) prolongou-se de 6 de julho de 1967 a 13 de janeiro de 1970; foi um conflito político causado pela tentativa de cessação ou separação das províncias ao Sudeste da Nigéria, como a autoproclamada República do Biafra. Traduziu-sde numa imensa tragédia humanitária com mais de 2 milhões de mortos, e muitos mais deslocados e refugiados, devido a guerra e á fome.
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As Fotos:


F01 – O "Biafra" que encontrei quando ali cheguei. Tem uma cruz, era a porta onde eu fiquei. O acesso nem tinha um passeio ou coisa parecida, era um caminho, que já todos depois lhe chamavam de picada. Ao lado parece que tem um aparelho de ar condicionado, mas é uma
simples ilusão de óptica.

F02 – O "Biafra" com telhado em zinco, bom para aquecer mais, e uma vista da rede mosquiteira. Agora vendo melhor, pensei que era mais fina, mas parece-me agora um pano
grosso, tipo um lençol, que abafava a boca e protegia dos mosquitos.

F03 – A entrada para o "Clube de Oficiais" do QG, com muro separador e uma vista geral da
messe. Foi a primeira imagem que tive, no dia 21set67, ainda estava em melhoramentos. No dia seguinte, 22 de setembro,  segui de Dakota para Nova Lamego, para a minha tomada de posse do CA (Conselho de Adminiustração)  cessante do BCAV1915.

 A primeira missão que me deram à noite, ou foi por acaso, mas agora me lembro que podia ser uma praxe para os periquitos que chegavam. Fazer ou comandar um grupo de militares numa cerimónia de Velório a um militar num caixão de chumbo. Não fiquei com traumas por isso, mas preferia ir beber uns copos com a malta que estava de saida e conhecer alguns que nunca os vi. 

Passados 2 dias voltei para Bissau, para receber mais instruções do major, Chefe da Chefia de Contabilidade. Ele ficou tão atrapalhado com a minha total ignorância, pois soube que eu nunca tinha estado num CA, quer lá quer cá, nunca tive estágio nem a formação, que mais tarde ele foi lá a Nova Lamego pessoalmente para ver como eu me desenrascava. Tive sempre ali um amigo. Mas nem sei o nome dele.

F04 – A Piscina do Clube, quase nova. Parece-me que nem água tinha, visto agora, mas tem
uma boa sombra ao fundo.

F05 – O edificio da Messe, tudo muito novo, será que ainda não tinha aberto ao público? É uma que faço agora por ver as fotos com outros olhos.

F06 – Esta foto ainda em setembro 67, junto à piscina, ainda me parece tudo novo, e sem água ainda, porque estou vestido de roupa normal.

F07 – Já estamos em novembro de 67, e já se vê água e nadadores, já tinha os meus calções que nunca os larguei, mesmo depois de vir ainda usei uns anos, gostava do amarelo. Foi uma
sorte ter comprado no Rossio em Lisboa, na tarde de 19 de setembro, pois por causa de o avião não pegar, fiquei ali um dia, e lembrei-me que na Guiné devia haver também água!! Foi a visita de um camarada do Porto, da Escola e do Instituto Comercial e depois 
colega  na  EPAM no Lumiar. 

Era um bom rapaz, assim transmontano, entroncado à minha beira, os pais tinham uma Pensão e Casa de Pasto, na Rua do Loureiro, ao lado da Estação de São Bento. Hoje está tudo em obras para novos hotéis e alojamentos de turistas. Ali ao lado paravam as camionetas que nos traziam de Mafra e Lisboa, e depois nos levavam no domingo à noite. Por amizade chamavamos de  o "Artolas", pois foi um nome dado a 5 comparsas no curso, que ficavam na mesma tenda, onde eu me incluia também. Chama-se Policarpo e era alferes,  mas não sei o que fazia lá, qual era a sua função. Mas, filho de peixe sabe gerir uma messe ou intendència!

F08 – No espaço da piscina, já com piso relvado, não se vislumbra ainda a água. Ainda em set67 junto de um trabalhador civil, que tratava da limpesa e arranjos de jardins e plantas.

 F09 – Em 5nov67 já está a funcionar a piscina, e inicio eu a minhas maratonas de saltos em alturas, das pranchas para a água, era a minha habilidade. Mesmo sem saber  formalmente nadar como uma pesoa normal, atirava-me sempre em mergulhos para a parte mais funda, depois já sabia o caminho debaixo de água para dar umas braçadas e apanhar umas escadas para me segurar.

Acho que depois de ir para Nova Lamego com o Batalhão, pelo Rio Geba acima, em 040ut67,
este mês não devo ter estado em Bissau, e em novembro já estou lá, para a prestação de contas na Chefia de Contabilidade, e já passo umas vezes pela piscina, ou estou lá instalado, ou noutro sitios de Bissau, como seja o meu preferido, o Grande Hotel, que era um Oásis no meio aquilo tudo. Tinha dormidas em quartos pessoais e independentes e Casa de Banho privativa, pequeno almoço na sala, e almoços e jantares para quem quisesse. Um excelente espaço de bar com muito artigos que nunca tinha visto nem comprado. Assim comprava roupa especial, camisas manga curta, polos Fred Perry, que não existia em Portugal,  calças de ganga, cintos, canetas de marcas, isqueiros, charutos, cachimbos, tabacos para os mesmos, bebidas na sua aioria desconhecidas na metrópole, embora no aquartelamento , verdade seja dita, tinhamos a nossa dose mensal de distribuição militar de bebidas e tabacos importados.

O Grande Hotel" tinha uma esplanada uns degraus abaixo, com mesas à sombra   das  palmeiras, passeavam entre nós grandes sardões, que subiam e desciam das palmeiras, e pela primeira vez vi aterrar perto de mim, um grande jagudi que pegou numa peça morta e a levou para bem longe. Era um animal muito feio, mas muito útil para um ambiente sustentável,  como se diz agora para tudo.

 É a natureza a atuar como sempre fez e vai continuar, por isso não me atormentam os
terrores lançados pelos ambientalistas, pois a natureza tudo resolve.

Por coincidência hoje vi uma reportagem sobre os milhares de milhões de toneladas  plástico nos oceanos, e a ciência descobriu que existe uma fórmula para eliminar os plásticos, são absorvidos pelos fungos. Não sei se estou a dizer uma barbaridade mas foi o que percebi.

F10 – A segunda fase do salto, o lançamento pelo ar tipo pato bravo, a esperar-me uma barrigada na água, pois não tinha ainda a noção das posições, algum amigo encarregava-se de cá fora fazer as fotos, já com a máquina programada por mim, era só bater a chapa.

(Continua)

(Revisão / fixação de texto / negrit0s, título: LG)

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quarta-feira, 21 de maio de 2025

Guiné 61/74 - P26826: S(C)em Comentários (68): Fome, camaradas ?!.... Não, em Nova Lamego, São Domingos, Bissau (Virgílio Teixeira ex-alf mil SAM, BCAÇ 1933, 1967/69): sim, "aos poucos de cada vez" na Ponta do Inglês, Xime (Manuel Vieira Moreira, 1945-2014, ex-1º cabo mec auto, CART 1746, 1967/69)


Guiné > Zona Leste > Regão de Gabu > Nova Lamego > CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) > 4º trimestre de 1967 > Mais um jantar-convívio com o pessoal – condutores auto – nas suas instalações, bar ou dormitórios, não sei bem identificar. A ementa deve ser de frango, como habitual. E a cerveja que se bebia era a Cristal, em formato "bazuca" (0,6 l).O Virgílio Teixeira, ex-afl mil SAM, era o primeiro da direita.

Foto (e legenda): © Virgílio Teixeira (2019). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Comentário do Virgílio Teixeira, ex-alf mil SAM, BCAÇ 1933 (1967/69) ao Poste P26816 (*):


A FOME NA GUERRA

por Virgílio Teixeira


Este tema é controverso, cada um sabe da sua história e vivência.

Eu não me posso enquadrar em muitos dos relatos aqui apresentados ao longo dos anos. Acho que apesar de tudo fui um privilegiados.

A minha guerra passou-se praticamente junto do comando do batalhão e da CCS.
Em locais não tão graves como outros, mas também com as suas deficiências.
Nós tínhamos sempre quer em Nova Lamego quer em São Domingos a nossa messe de oficiais, havia a messe de sargentos e a cantina das praças. Era assim, não sei porquê, nem interessa agora.

Sempre me fiz acompanhar pelo grupo dos condutores e outras praças, que estavam ligadas de alguma maneira aos comes & bebes, porque apanhavam muitos animais que depois cozinhávamos para alguns.

Frequentava mais a messe de sargentos, para os copos, do que a de oficiais, que era um casino fora de horas.

Fiz muitos serviços de oficial de dia, e tinha que supervisionar o rancho geral, o que fazia sempre, depois havia as provas – como o demonstram as fotos que já estão publicadas – e aproveitava muitas vezes comer no refeitório do rancho geral e da sua comida, igual à dos outros. Nada a lamentar, quer do lado das praças, quer da minha parte. Reconheço que nunca vi outros a fazerem o mesmo, são formas de estar.

Por isso ganhei um lugar à parte na classe das praças, e sempre que havia petisco novo fora das messes e rancho, lá estava eu convidado, e tenho dezenas de fotos que o demonstram. 

Porquê? A malta gostava da minha maneira e nada de superioridades, sempre respeitei todos e eles a mim. O comandante é obvio que não gostava mas nunca me disse nada.

 
Por isso, fome não. Carências de vária ordem sim, também quando não havia nada, comia-se sopa de estrelinhas acompanhadas de casqueiro.

Mas, nas tantas vezes de convívio com os praças, nunca existia fome. Surpreende-me agora saber do que se passava na grande generalidade dos casos. Mas havia também muita malta de todos os escalões que levavam boa vida estomacal.

Por causa disso, fiz muitas colunas de reabastecimento, e entrei naquelas duas loucuras de viagem de Sintex entre S. Domingos e Susana, para ir trazer umas batatas, bananas e se possivel um animal vivo. Da última vez correu mal e perdemo-nos e safei-me. Não me lembro de fome, mas talvez de sede.

Nada disto é comparável às ações de combate e patrulhas de dias, com rações de combate, que não eram o meu forte.

Depois tinha a grande vantagem de todos os meses poder ir a Bissau e matar a barriga de misérias, a verdade seja dita.

Nos últimos meses em S. Domingos, a Companhia de intervenção, a CART 1744, por intermédio do sargento e um cabo da secretaria, com o aval do Capitão, construíram um tipo de restaurante ambulante, com frangos assados criados ali na horta e tantos legumes frescos como nunca tínhamos visto. Foi um fartar, mas pagava-se!

Diga-se em abono da verdade, que estas situações que conto, não eram normais, só alguns participavam nelas, eu quase sempre, um ou outro furriel ou sargento, e ocasionalmente um alferes que se juntava, não sei os critérios porque não era da minha organização.

Agora que havia uma segregação entre tropa branca, segundo os escalões, é verdade, mas só constato isso agora por estarmos a falar, senão para mim seria o normal, porque não vi nunca outra postura de solidariedade, para todos.

Quando o Luis diz que não se sentou junto dos seus soldados no refeitório ou outro local , acredito, mas para mim isso foi uma normalidade.

Os meus cumprimentos e abraços
Virgilio Teixeira


2025 M05 21, Wed 00:15:54 GMT+1




2. Excerto do poste P1009 (*)


Manuel Vieira Moreira  (1945-2014) (ex-1.º cabo mecânico auto, CART 1746, Bissorã, Xime e Ponta do Inglês, 1967/69; natural de Águeda; ppoeta popular e letrista de fados, entrou paraa Tabanca Grande em 27/11/2008; tem 33 referências no blogue).

O destacamento da Ponta do Inglês, na foz do Rio Corubal, subsetor do Xime, setor L1 (Bambadinca), era um dos sítios mais desgraçados da Guiné.  Foi dos aquartelament0s abandonados pelas NT logo no início do "consulado" de Spínola.

 

CANÇÃO DA FOME

por Manuel Vieira Moreira (1945-2014)


Estamos num destacamento,
A favor de sol e vento,
Na Ponta do Inglês,
Não julguem que é enorme
Mas passamos muita fome,
Aos poucos de cada vez.

A melhor refeição
Que nos aquece o coração,
É de manhã o café;
Pão nunca comi pior
Nem café com mau sabor
Na Província da Guiné.

Ao almoço atum a rir
E um pouco de piri-piri,
Misturado com bianda,
E sardinha p´ró jantar
E uma pinga acompanhar
Sempre com a velha manga.

Falando agora na luz
Que de noite nos conduz
As vistas par' ó capim:
Se o gasóleo não vem depressa,
Temos Turras à cabeça,
Não sei que será de mim.

Quando o nosso coração bole,
Passamos tardes ao sol
Junto ao rio, a esperar
De cerveja p'ra beber
E batatas p'ra comer
Que na lancha hão-de chegar.

A fome que aqui se passa
Não é bem p'ra nossa raça,
Isto não é brincadeira
E com isto eu termino
E desde já me assino:
Manuel Vieira Moreira.

Xime, Ponta do Inglês, 28/01/1968


______________

Notas de L.G.

(*) Vd, poste de 20 de maio de 2025 > Guiné 61/74 - P26821: S(C)em Comentários (67): P*rra, dou agora conta, 50 e tal anos depois, que nunca me sentei no rancho geral, para partilhar uma refeição com os meus cabos, que eram metropolitanos, e que tinham uma barriga igual à minha... Em Bambadinca, existia o "apartheid", nobreza, clero e povo, devidamente segregados, em termos sociais e espaciais (Luís Graça)


Vd. também poste de 19 de maio de 2025 > Guiné 61/74 - P26816: Contos com mural ao fundo (Luís Graça) (40): Quem não arrisca, não petisca

(**) Vd. poste de 31 de julho de 2006 > Guiné 63/74 - P1009: Cancioneiro do Xime (1): A canção da fome (Manuel Moreira, CART 1746)

quinta-feira, 17 de abril de 2025

Guiné 61/74 - P26695: Histórias de vida (59): O meu amigo A..., do Café Cenáculo, no Porto, e depois alferes da Cheret no QG/CCFAG (Virgílio Teixeira, ex-alf mil SAM, CCS/BCAÇ 1933, Nova Lamego e São Domingos, 1967/69)

 


Praia de Vila do Conde, 1963...


Vila do Conde, Av Brasil, 17/3/2020...


Fotos (e legendas): © Virgílio Teixeira (2025). Todos os direitos reservados.[Edição e legendagem complementar de: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Histórias de vida > O  meu amigo A...,  do Café Cenáculo, no Porto, e depois alferes da Cheret no QG/CCFAG

por Virgílio Teixeira



O Café ainda existe, 64 anos depois de abrir. Abriu portas no dia 11 de novembro de 1961, já com início da guerra em Angola, e um mês e tal antes da invasão do Estado Português da Índia em 18 de dezembro de 61.

Esse amigo, 3 anos mais novo que eu, era de boas famílias, burguesia do Porto, mas ele próprio era um bocado desbocado, diferente de todos nós que ali frequentávamos o Café para estudar, tendo ainda hoje várias placas nas paredes dos diversos cursos universitários que por lá fizeram em parte a sua vida, tal como havia em muitos cafés do Porto, sem esquecer o Piolho, o Progresso, o Ceuta, o Avis, e tantos outros.

O A...  (omito o seu nome por razões óbvias) estudava engenharia no ISEP (Instituto Superior de Engenharia do Porto), e já tinha a sua panca acentuada antes de chegar à Guiné.

Era o alferes miliciano A... L... que pertencia à Cheret – para quem não sabe, como eu não sabia, estava ligado a encriptação e desencriptação de menagens – e tem muitas histórias de conseguir pôr as transmissões do IN à volta da cabeça, com sucessivos códigos novos
. (Cheret é o acrónimo de "Chefia do Serviço de Reconhecimento das Transmissões".)

Isto porque um "cheret" anterior a ele, mas furriel miliciano, teria sido capturado, e isso significava  que o mais provável era ter passado tudo para os seus carcereiros. 

Estes combatentes não usavam armas, nem faziam serviços, estavam ligados ao QG/CCFAG– Rep não sei quantos,  das transmissões ou informações. Nem lhes era permitido ir em colunas ou outros meios de transporte terrestes ou fluviais, só por avião. 

Esteve em Bissau, depois em Catió e finalmente em Piche, quando aquilo já estava muito feio, já não era nada como no meu tempo, em que ia a Piche em colunas à boleia, só para conhecer melhor o que era a terra que me viu de G3 e farda camuflada.

Este colega e amigo, como estamos numa de "piadas de caserna", tenho dele uma de partir a moca. 

Quando o encontrei em Bissau, talvez dezembro de 67, eu não sabia que ele tinha ido para lá, encontro-o na Pensão da Dona Berta, acompanhado com a sua jovem esposa.

Conta ele que, depois de mobilizado, nada disse em casa, nem nem ele nem a namorada, os pais eram austeros e gente de dinheiro. Ele namorava a rapariga, e antes de sair, casou sem conhecimento de nenhum dos familiares de ambas as partes, não souberem de nada, só quando lá estavam em Bissau deram notícias.

Então ele não esperou pelo seu embarque gratuito, comprou bilhetes da TAP e lá foram eles para Bissau, onde passaram a sua Lua de Mel na Pensão da Dona Berta.

Andou assim uns 15 dias e nunca se apresentou no QG,  como seria normal. Conta ele que passeava na marginal com a mulher, e encontrou um militar muito zangado e com muita raiva, e dizia ele, que estava há mais de um mês à espera do seu substituto, e ele não aparecia nem ninguém sabia dele

– Possivelmente já desertou e eu aqui à espera dele!

Logo se desfizeram as dúvidas quando o outro disse que estava à espera de um alferes da Cheret!... Disse o A...:

 – Sou eu!!!

O resto não sei, mas foi uma alegria para o outro, e o A... nunca contou o que lhe aconteceu no QG.

Quando chegou aos 15 meses arranjou forma de ir parar ao HM 241 em Bissau, para a Psiquiatria, lá para maio ou junho de 69. Encontrou lá o outro A..., o F... da Companhia de Transportes, que vivia lá com a mulher e filha E..., que eu levava comigo a passear de mota, quando ia a Bissau. Tinha 3 anos, tem hoje 60.

Nessa altura estaria eu também na mesma zona da Psiquiatria. Eles foram mais espertos e lá conseguiram vir embora de avião militar, com destino ao Hospital da Estrela.

Mas em vez disso, resolveram ir para o Algarve e desenfiaram-se uns dias. O A... F....  já tinha mandado a mulher e filha para cá, e o A... L... já tinha mandado a mulher para a metrópole, a mulher tinha vindo muito antes. Como não ficou em Bissau, penso eu que ela veio recambiada.

O F...,  depois de cá chegar,  uns anos depois volta a frequentar a FEP (Faculdade de Economia do Porto) e acaba o curso e passa a ser um quadro importante do antigo BPA, depois BCP. Saiu reformado muito cedo com a pensão completa.

Ainda fiz alguns negócios com ele – com o Banco – em contratos "leasing" quer para mim quer para clientes. Não sei porquê, separou-se da mulher, que lá em Bissau trabalhava na Farmácia. Ficou solteiro. A mulher que casou com um juiz de Ovar, veio a falecer há um ano atrás.

Somos amigos e temos o nosso blogue – uma conta no WhatsApp com 7 amigos.

Em Bissau o F.... morava numa casa junto com o cunhado, o P... G...,  da CC e com a mulher dele,  a Ac..., irmã da mulher do F... Parece que não correu muito bem esta convivência conjunta.

Agora as irmãs já morreram, com um mês de diferença. O P...G... também aparece nos almoços do grupo, junto com o cunhado F...

A E.... casou e tem dois filhos, netos do F..., e encontramo-nos apenas nos
funerais das mulheres. Ela quase não me conhece, não se lembra, era muito miúda, é arquiteta e apresentou-me o marido, que tem como virtude ser mais um fanático do FCPorto, e que convida o sogro para ir ver os jogos do Porto na TV. O F... não gosta de futebol, mas puxa pelo Porto. O genro agradece.

Estou a fugir da conversa do A...L... da Cheret. Passaram à peluda, os dois A... (têm o mesmo nome). Eu e eles somos amigos do Café Cenáculo, desde os anos de 60. (Fica na Rua Antero de Quental.)

O A...L... perdi-lhe um bocado o rasto pois entretanto venho para Vila do Conde trabalhar numa multinacional sueca, e depois casei e mudámos para cá, e assim se foram perdendo lentamente os nossos amigos mais importantes, "longe da vista, longe do coração", quer para mim bem como para a minha mulher que já não tem amigas da infância e adolescência.

O A... entretanto divorciou-se, teve um filho da primeira mulher, que já adulto acabou com a vida, foi um rude golpe. Foi o A... que me contou cá em Vila do Conde, numa garrafeira de um amigo dele, onde nos encontramos. Fiquei chocado.

Entretanto ele vai abrindo o cofre e começa a contar a sua vida, com 3 casamentos e 3 divórcios à mistura. Tem filhas das duas últimas mulheres mulheres,   encontrando-se a viver em diversos países da Europa.

Ele ainda mantém relações de amizade com todas as suas mulheres e os filhos, mesmo a mãe do falecido, a sua primeira mulher que eu conheci em Bissau.

Há uns anos, cinco talvez, juntou-se com outra mulher, 5 anos mais nova do que ele, que era divorciada de um tal Virgílio – não sou eu – que também passou pela Guiné.

Alugou aqui uma casa, a 500 metros da minha, e está a viver com a dita – chamamos- lhe H...L... Passado um ano mais ou menos casaram pelo civil. O A... tem uma quinta em Entre-os-Rios , que tem um caseiro e está à venda mais ninguém lhe pegou ainda.

A atual mulher vivia no Porto, na Rua de Camões,  e tem um filho, que é surdo-mudo, casado com outra mulher com a mesma deficiência. O filho, que não conheço, não gostou deste ajuntamento da mãe e durante uns anos não se viam. O A... não se importava, porque não sabia como falar com ele em linguagem gestual, e assim festas e natais era tudo separado. 

Depois do último Natal, onde o A... foi passar com um amigo em Viseu, a mulher recebeu o filho em casa deles. Agora já se conhecem e tiveram nos anos de algum deles.

Quando o A... se juntou com a H...L...  foram mudar para casa alugada para os lados de Monte dos Burgos, perto do RI6, da Senhora da Hora.

Depois mudaram-se  para Vila do Conde, e hoje estamos todos os domingos de tarde, juntos, os quatro, em cafés cá em Vila do Conde.

Assim a minha mulher já tem com quem falar, pois entendem-se bem. Mas ela já vai dizendo que está cheia do A..., não sabe até quando o vai aturar.

 O A... tem apenas as filhas que estão ausentes, e os dois irmãos , um mais velho que "deu o salto"(para fugir da tropa) e já morreu recentemente, e o outro mais novo, que também ‘se safou da tropa’ por cunhas do pai dele, também já morreu. O A... andou também fugido, mas voltou ao serviço, não eram muito do sistema, nem o seu próprio pai e mãe, já falecidos.

O A...é bom rapaz, só tem dois defeitos:

(i) é do Benfica e abominava o Pinto da Costa, mesmo quando eles eram vizinhos nas Antas no mesmo prédio;

(ii) tem uma paixão, são os livros e vai a tudo que seja relacionado com a literatura e afins, pelo que só fala disso, e pouco se importa com a conversa dos outros: conhece os maiores nomes da nossa literatura, os mortos de os ler, e os vivos de conviver, o que não agrada nem à mulher, e muito menos a mim.

Mas lá vamos continuando com os nossos encontro, e agora que se juntou também o nosso Padre Bártolo, antigo capelão-mor na Guiné, Angola e Moçambique, e que depois viveu 30 anos em Genebra e tem altíssima cultura, e por isso agora eles falam um com o outro,  eu vou ouvindo sem nada perceber sobre as pessoas que falam.

O A... é de uma grande inteligência, formou-se em engenharia de sistemas digitais e afins, mas nunca pegou num computador e muito menos num "smart phone", tem apenas um telemóvel desses antigos da Nokia como tem a minha mulher, que não se deu com os outros.

Quando formamos o grupo do WhatsApp – Os veteranos da Guerra da Guiné – partilhamos mensagens e tudo o mais que vem à cabeça, especialmente coisas do outro mundo, fotos e vídeos de fazer corar um santo.

Como ele não tinha esse dispositivo, ficou associado ao da mulher, pois ele nunca tem o seu telefone ligado, nem servia para integrar o grupo WhatsApp.

Assim a partilha destas coisas todas que nós falamos e publicamos,  quem as via era a sua mulher,  a H...L, , até que um dia viu algo que não gostou mesmo, e telefona-me a perguntar o que era aquilo, por que razão recebia aquelas coisas obscenas... 

Lá lhe expliquei o engano e acabou-se a sua participação. Tudo o que tenho de lhe comunicar,  faço, diretamente a ele, para o telefone dela, mas jamais houve contactos, ninguém sabia disso e era tudo a abrir.

Não tem estes dispositivos nem quer, ele diz que nunca abriu um computador!...
Foi sempre professor universitário e chegou a sê-lo do meu genro, em algumas
disciplinas, ele formou-se em engenharia civil.

Para a Cheret só iam dois tipos de pessoas e com características bem vincadas:

  • quem era muito afecto ao sistema salazarista e agora até chamam de fascistas;
  • ou quem tinha inteligência excecional, especialmente ligada a números, para a função de encriptar mensagens.

Na primeira não cabia, mas sim na segunda e assim passou a ser um homem do sistema e bem controlado, digo eu.

Agora o que resta é esta quinta mulher, mas não têm filhos em comum, obviamente.

Ele é muito perfeccionista, tanto anda com uma T-shirt do Che Guevara, como um blusão camuflado, e tem como defeito principal, na perspetiva da mulher, o de comer muito e a toda a hora, e nós vemos isso nos lanches de domingo.

Fazem as despesas a meio, ela era bancária e recebe a sua reforma e a do falecido. Ele, dizem eles, que nem sabe quanto ganha, porque nunca consulta as contas!

A mulher, entretanto, arrendou a sua casa da Rua de Camões, e quando dá por ela, "já lá viviam dois gays: não pagam a renda e os advogados não veem maneira de os por de lá para fora, além de que são perigosos"...

Acho que, se ela recuperar a casa dela, vai acabar com tudo. Isto é  a nossa versão.

E assim vão as coisas.

Muito mais poderia aqui acrescentar, mas para já chega de conversa. Fim da novela, ao fim de um mês de a começar.

Em, 27 de março de 2025

Virgílio Teixeira

(Revisão / fixação de texto: LG)

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Nota do editor:

Último poste da série > 16 de abril de 2025 > Guiné 61/74 - P26693: HIstória de vida (58): Henrique Pereira Rosa (Bafatá, 1946- Porto, 2013): o fur mil OE, CCAÇ 2614 (Nhala e Aldeia Formosa / Quebo, 1969/71), católico praticante, luso-guineense, que chegou a presidente da república, interino (2003-2005), da Guiné-Bissau

sexta-feira, 11 de abril de 2025

Guiné 61/74 - P26674: A Bissau do Meu Tempo (Virgílio Teixeira, ex-alf mil SAM, CCS/BCAÇ 1933, Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte II



Foto nº 12A e 12




Foto nº 15A e 15



Foto nº 14


Foto nº  11


Foto nº 10


Foto nº 8



Foto nº 9 e 9A




Foto nº 13A e 13

Fotos (e legendas): © Virgílio Teixeira (2025). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guine]


Fot0s do álbum do Virgílio Teixeira: membro da Tabanca Grande desde 19/12/2017. Tem cerca de 200 referências no nosso blogue. Natural do Porto, vive em Vila do Conde. É economista e gestor reformado.



A Bissau do meu tempo (Virgílio Teixeira,ex-alf mil SAM, CCS/BCAÇ 1933, Nova Lamego e São Domingos, 1967/69)


- Parte II








1.  Fotos e legendas:


Foto 8

No Restaurante Tropical

Frequentei este restaurante tradicional várias vezes, mas não me lembro onde ficava, talvez na Bissau Nova.

Estamos 3 na mesa, um deles o Riquito foi bater a chapa, está um prato a mais. O rapaz na minha frente, que aparece inúmeras vezes nas fotos, nem sei o nome, era um soldado que julgo ser irmão do nosso ex-Furriel Riquito, pois é parecido com ele.

Duas garrafas de vinho, que não sei a marca, e um móvel cheio de coisas, que não
consigo agora identificar. Pede-se ajuda!

O penso no meu cotovelo, são as reminiscências da enorme queda nos acessos à Messe de Oficiais no Clube de Santa Luzia, onde já noite, vindo de Safim, com o meu amigo ex-alferes Verde, com uns copos a mais, caímos que nem sapos da motorizada, nas enormes valas de escoamento de chuvas. Ainda fomos à enfermaria tratar das mazelas sem ninguém se aperceber desta bronca.

Foto 9

Na estátua a Mouzinho de Albuquerque (o autor queria dizer, navegador Diogo Gomes, c. 1402/1420-c.1502), era eu e o meu homólogo "bianense", do BCAÇ 1932. Meu amigo do Porto e colega, de que já falei, no ICP (Instituto Comercial do Porto, fu
turo ISCAP - Instituto Superior de Contabilidade e Administração do Porto, a partir de 1976).

Em Fevereiro de 1968. Bissau

Foto 10

Marginal e ponte-cais de Bissau

Estou a deslumbrar-me com aquelas vistas, do rio, cais, porto. Está comigo o mesmo individuo que ainda não sei quem é, mas provavelmente irmão do Furriel Riquito (foto 8).

Bissau, em Fevereiro de 1968

Foto 11

Pub Bar A Meta

A tomar um copo neste bar, que era também de jogos de corridas de minicarros, etc,

À esquerda o soldado condutor Espadana, era também o Chefe de Mesa na Messe de oficiais, vestia sempre de branco, e tinha uns galões vermelhos, pelo que era conhecido como o nosso Brigadeiro. Era um rapaz simples e afável, parecia mais morcão do que veio a saber-se,

Foi ele que geriu o Bar no mês em que fui nomeado. Todos beberam à grande, nunca fiz contas nem vi o dinheiro, mas no final deu saldo positivo.

Veio a saber-se nos almoços do batalhão, que ele, não morava dentro do arame farpado! Tinha uma bajuda, isto pelo menos em S. Domingos, com quem fazia vida conjugal e com certeza levava algumas coisas da messe. Nunca soube de nada, só alguns e poucos colegas e amigos.

Nunca deram falta dele, estava a horas no Bar e Messe.

Quando eu nos anos de 1984 e 1985 andei em viagens de e para a Guiné, em negócios, fui e como sempre, antes de embarcar na TAP na Portela, jantar ou almoçar ao mesmo restaurante às Portas de Santo Antão, pegado ao Gambrinus.

Eis que dou com ele, ali numa churrasqueira ao lado, a servir frangos na esplanada. Lá nos abraçamos, era hora de ponta, ele não tinha muita disponibilidade, disse o que fazia agora na Guiné, ele demonstrou alguma saudade ou saudosismo (da bajuda talvez?!).

Já pertence àqueles que da lei da morte se foram libertando. Paz à sua alma.

A seguir o tal rapaz que não sei identificar, mas que andava com esta malta.

Depois aí está o chamado ‘Artolas nº 1’ Era um bom amigo, e fez comigo as marchas finais em Mafra, e depois em Lisboa Lumiar Carregueira na EPAM. Formou-se um grupo autodenominado o Grupo dos Artolas. Era eu, o meu homólogo,  o "Bianense", o chamado ‘Cachadinha’ que morava em Vila do Conde, foi candidato à Camara de Matosinhos pelo PCP, e que foi durante muitos anos, o Diretor Chefe da Alfândega de Leixões. Eu ia lá em serviço muitas vezes, mas nunca facilitava nada. Era severo. Tinha a voz rouca e grossa, baixinho como eu, daí a voz de bagaço a que chamamos de Cachaça, logo o Cachadinha. Era o Madureira. Tinha o curso do ICP e foi parar a outro local qualquer, mas não na Guiné.

A seguir ao Artolas, falha-me o nome, sou eu já conhecido. (Policarpo). Os pais tinham uma pensão junto à Estação de São Bento, onde serviam na tasca, bebidas e petiscos, e fui lá algumas vezes, na Rua da Picaria.

Bissau em 25 de Março de 1968. Faz hoje 57 anos.

Foto 12

No cais de embarque em Bissau e Marginal

Das primeiras fotos que tirei, uns dias depois de ter desembarcado e ainda em Setembro de 67.

A apreciar paisagem com o tal personagem que não sei quem é, o meu batalhão ainda não tinha chegado, eu ia para ali para ver a sua chegada, em 3 de outubro de 67.

Os "bocas de sapo" eram talvez do Estado, pelo aspecto.

Não sei identificar o navio no cais, mas era pequeno, porque os grandes ficavam ao largo.

Bissau, em fins de Setembro de 1967

Foto 13

Junto a navio patrulha da armada portuguesa Esse é um navio, talvez Patrulha ou Fragata, não sei. Mas a bandeira não é Portuguesa, daí a minha confusão. Mas para lá entrar era dos nossos.

Nesta fase, já estou desempregado, e a aguardar a chegada do "Uíge" para me levar
embora.

Bissau, Maio de 1969

(Nota do editor LG: Provavelmente é um rebocador. o pavilhão é alemão (bandeira tricolar: preto, vermelho e dourado, da então República Federal Alemão; o navio estava matricialdo em Hamburgo, lê-se na boia de salvação; o nome do navio é ilegível.)

Foto 14

Grande Hotel de Bissau

Já fumava charuto? Não me lembro, mas talvez esporadicamente.

Vinha muitas vezes para este Hotel, tinha um optimo serviço, parava lá a fina flor de Bissau e visitas,

Passei por lá algumas noites, quando não me apetecia ir para o "Biafra", tinha casa de banho completa. Lembro-me do cheiro a creolina para desinfectar tudo especialmente expulsar as baratas que por lá andavam e os fungos de muita gente com doenças,

Tinha pequeno almoço tipo hotel, e muitas vezes almocei e jantei por lá, onde via
frequentemente os altos comandos militares, incluindo Spínola.

Tinha uma loja de venda de muitas coisas que não existiam no comércio local e
tradicional. Ali comprei os primeiros polos.

Na esplanada não faltavam os sardões de meio metro a subir pelas árvores, mas vinham visitar-nos à beira dos pés.

Os jagudis era a sua sombra negra.

Bissau, Novembro de 1968

Foto 15

Avenida da Liberdade (isto é, da República), em Bissau, com duas faixas de rodagem e separador central

Pouco movimento, tudo maltratado, ao cimo a Praça do Império, e o Palácio do
Governador.

Quem sobe do lado direito, depois do Bento, e depois da Pensão da Dona Berta, temos o Stand da Peugeot e venda de gás em botija. Era o Gascidla, muito famoso aqui na metrópole. Devia pertencer à Sacor.

Acima estão as bombas de gasolina da Sacor, onde eu abastecia as minhas motorizadas.

Bissau em 3 de Outubro de 1967, no dia de chegada do T/T Timor com o meu batalhão.

(Continua)

(Revisão / fixação de textyo: LG)
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